Um poema que não cessa...

Tenho saudade do tempo em que escrever

Soava, para mim, como nota envolta em melodia

Em cada ato havia ritmo, palavras esbanjavam métrica

Sem tamanho medo de errar nem rastros de confusão

Sinto falta das intermináveis horas ensaístas

Manhã, tarde e noite em prol das dóceis letras da estação

Tudo era poesia, leveza, serenata de cores

E eu, dançante, buscava a mim mesma nas entrelinhas do caos

Mas, ao longo da vida, entendi um pouco o modo como as coisas se dão

Se há intensidade, o raciocínio abre espaço para o êxtase

Nem sempre as palavras conseguem rasgar o papel

O coração paralisa e tudo o que nos resta é o ininteligível sentir

Perdoei-me, então, por abandonar um pouco minhas caras linhas

Repousei a xícara de café, o papel de carta e suas delicadezas

Guardei a caneta-tinteiro numa gaveta entreaberta

E permiti que a alma me levasse sob o canto das emoções

Assim, sempre haverá um instante a mais para escrever

Observar o que se sente, vislumbrar panoramas diversos

Basta que as percepções possam surgir de dentro

Para tocar o que há de mais profundo na escrita: a essência...

 

Por Tatiana Kielberman - Poeta, Blogueira que admiro!
Ilustração: Leonid Afremov 

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